A busca
de modelos ideais de educação no mundo não é assunto recente. Ao longo da
história, muitos estudiosos formularam teorias e implantaram ações para
desenvolver as bases de uma educação democrática e de qualidade.
No
Brasil, não foi diferente.
Para marcar
a passagem do Dia do Professor, comemorado neste domingo (15), o professor
Célio Cunha, do Departamento de Educação da Universidade de Brasília (UnB),
conversou com o Portal EBC sobre
14 brasileiros que revolucionaram a educação no país. Para Célio Cunha, no
Brasil, o maior desafio é dar continuidade às ideias destes mestres e abrir
todas as ações ao diálogo com a sociedade. "É necessário fazer um pacto
pela educação brasileira acima de qualquer interesse político e
ideológico", afirma o professor.
Além dos
14 brasileiros citados, o professor diz que nomes como Noemy da Silveira
Rudolfer, José Mário Pires Azanha, Luiz Antonio Cunha, Moacir Gadotti, Claudio
Moura Castro e João Batista de Oliveira poderiam ser incluídos entre os que
revolucionaram a educação no país.
Conheça os grandes ícones da educação no Brasil
Nísia Floresta
Nísia
Floresta Brasileira Augusta (1810-1885) foi uma grande defensora da educação e
dos direitos humanos. Ela entendia que a escola deve ser de todos, inclusive
das mulheres. Foi, provavelmente, a primeira mulher no país a publicar textos
em jornais, em uma época em que a imprensa nacional ainda engatinhava. Nísia
também dirigiu um colégio para moças no Rio de Janeiro e escreveu livros em
defesa dos direitos das mulheres, dos índios e dos escravos.
Rui Barbosa
Rui
Barbosa de Oliveira (1849-1923) foi responsável por um projeto de modernização
da educação no Brasil, ao defender um sistema nacional de ensino baseado na
universalização e gratuidade, do jardim de infância à universidade, conforme
consta de pareceres por ele redigidos em 1882. Rui Barbosa havia estudado o
contexto da educação nos Estados Unidos e em vários países da Europa para
defender o que considerava adequado ao Brasil. Ele chegou à conclusão de que,
se a educação no país continuasse como estava, o Brasil levaria 799 anos para
atingir o estágio dos países que tinha pesquisado. As conclusões presentes nos
pareceres incorporaram as ideias da Escola Nova. Para Célio Cunha, os pareceres
de Rui Barbosa destacavam a responsabilidade do Estado com a instrução
pública. Barbosa defendeu também a ideia de um Ministério da Educação inspirado
na realidade de vários países europeus.
Roquette-Pinto
Um dos
maiores defensores da radiodifusão no Brasil, Edgard Roquette-Pinto (1884-1954)
teve importante papel na difusão da educação e da cultura no país. Foi ele quem
idealizou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada com o objetivo de
divulgar assuntos culturais e científicos e oferecer cursos em diveresas áreas.
Para Roquette-Pinto, o rádio, assim como o cinema, teriam papel fundamental na
solução dos problemas educacionais no país. Ele dirigiu o Instituto Nacional de
Cinema Educativo de 1936 a 1947, incentivando a participação de cientistas na
elaboração dos filmes e a escolha de temas científicos e técnicos.
Manoel Bomfim
Manoel
José do Bomfim (1868-1932) foi defensor da educação científica nas escolas, com
disciplinas como matemática, física e química, em um contexto em que a tradição
do Brasil ainda era quase exclusivamente humanística, baseada na pedagogia dos
jesuítas. Ao contrário da maioria de seus contemporâneos, Bomfim defendia a
miscigenação, negando a validade científica das teorias racistas em voga. Via
na educação a emancipação e a construção de uma sociedade democrática. O
sentido libertário que ele atribuiu à educação é considerado um dos princípios
básicos para a construção da cidadania.
Villa-Lobos
No
período do governo Getúlio Vargas, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) desenvolveu o
Sistema de Educação Musical, com a adoção do canto orfeônico no ensino regular.
Apesar de semelhante ao canto coral, o canto orfeônico ajustava-se à ideia de
multidões, pois não era necessário que os praticantes tivessem conhecimento de
técnica e teoria musical. Com o objetivo de capacitar professores de educação
musical, foi criado, em 1942, o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico no
Rio de Janeiro e, desde então, outros cursos foram implantados no Brasil.
Villa-Lobos também dedicou atenção ao trabalho rítmico, associado à cantiga de
roda e a canções folclóricas, colocando o aluno inicialmente em contato com os
sons para, depois, familiarizá-lo com partituras.
Bertha Lutz
Bertha
Maria Julia Lutz (1894-1976) lutou pelo acesso das mulheres à educação e levou
escolas de ensino superior para as camponesas. Uma das pioneiras do movimento
feminista no Brasil, a bióloga fundou, em 1919, a Liga pela Emancipação
Intelectual da Mulher que, em 1922, transformou-se na Federação Brasileira pelo
Progresso Feminino (FBPF), a principal agremiação de mulheres até a década de
1970. Berta Lutz defendeu, desde o início de sua militância, o direito da
mulher ao voto, à educação e à profissionalização.
Fernando de Azevedo
Fernando
de Azevedo (1894-1974) foi um dos expoentes do movimento da Escola Nova. Em
1934, ajudou a criar a Universidade de São Paulo (USP), uma das mais notáveis
universidades brasileiras. Também foi criador, em 1930, do Instituto de
Educação, que tinha como objetivo a formação de professores em nível superior.
Porém, essa instituição durou apenas cinco anos. Azevedo foi redator do Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932, considerado um dos mais
importantes documentos para a educação brasileira. O manifesto defendia novos
ideais na educação e estabelecia diretrizes para uma nova política no setor.
Anísio Teixeira
Apontado
como principal idealizador das grandes mudanças da educação brasileira no
século 20, Anísio Spínola Teixeira (1900-1971) foi pioneiro na defesa do ensino
público para todos. Criou a rede municipal de ensino completa, da escola
primária à universidade. Teixeira executou medidas para democratizar o ensino e
defendeu a experiência do aluno como base do aprendizado. As novas
responsabilidades da escola seriam educar, em vez de instruir, formar homens
livres e preparar os alunos para um futuro incerto, em vez de transmitir ideias
do passado.
Cecília Meireles
Cecília
Benevides de Carvalho Meireles (1901-1964) trabalhou pela educação diferenciada
para a infância e pela valorização da cultura popular e do folclore brasileiro.
Foi professora da Escola Normal, lutou pela formação dos docentes e escreveu
livros didáticos, em uma época em que tais publicações eram escassas do Brasil.
Também foi uma das signatárias do Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova. Cecília Meireles dedicou-se à tarefa de pensar questões fundamentais
para os educadores, tendo como ponto de partida um trabalho de reflexão
histórico sobre a escola e suas implicações na sociedade.
Paulo Freire
Paulo
Reglus Neves Freire (1921-1997) é o patrono da educação no Brasil. Defensor
da conscientização do aluno, Freire desenvolveu um método inovador de
alfabetização para adultos, com foco na emancipação da pessoa. Com pensamento
pedagógico assumidamente político, Freire propôs que o aprendizado incluísse,
simultaneamente, determinados conhecimentos e seus significados político e
social. Ele entendia que o objetivo maior da educação é conscientizar o aluno e
que, no caso das camadas menos favorecidas da sociedade, isso significaria
levá-las a entender sua situação de oprimidas e a agir pela própria libertação.
Darcy Ribeiro
Para
Darcy Ribeiro (1922-1997), o Brasil tinha de acertar o passo com seu passado
indígena, afrodescendente e europeu. Darcy Ribeiro defendeu a educação básica
integral e acreditava que a miscigenação poderia transformar o Brasil em uma
grande democracia étnica. Fundou, em 1960, a Universidade de Brasília (UnB) e
idealizou a Universidade Estadual do Norte Fluminense. Foi ministro da Educação
em 1961 e, ao longo de sua vida, trabalhou pela escola pública, pela educação
dos indígenas e pela qualidade do ensino infantil. Foi ainda responsável pelo
projeto de lei que deu origem à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
(LDB), Lei 9394/96, aprovado pelo Senado.
Florestan Fernandes
Florestan
Fernandes (1920-1995) lutou pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, pela escola pública, pela valorização e qualificação do professor e
pela presença do Estado na educação brasileira. Sociólogo, pesquisou a
sociedade indígena dos Tupinambás, gerando um estudo clássico para a etnologia
brasileira. Seu nome é diretamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e
na América Latina. Florestan Fernandes transformou o pensamento social no
Brasil e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo
rigor analítico e crítico.
Mariazinha Fusari
Uma das
criadoras da Educomunicação, Maria Felisminda de Rezende e Fusari (1940-1999)
desenvolveu pesquisas sobre a relação entre mídia e infância. Foi co-fundadora
do Núcleo de Comunicação e Educação (NCE), da Universidade de São Paulo (USP) e
colaborou para a ampliação do diálogo entre os campos de conhecimento da
comunicação e da educação.
Maria Teresa Mantoan
Defensora
da educação inclusiva e do direito de todo cidadão ao ensino do nível básico ao
superior, Maria Teresa Mantoan (1943) é crítica das chamadas escolas especiais.
No entendimento de Maria Teresa, na escola inclusiva, alunos e professores
aprendem a respeitar as diferenças, e este seria o primeiro passo para a
construção de uma sociedade mais justa.
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