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Banana-maçã gera nova perspectiva no campo
Há mais de 17 anos morando e trabalhando na zona rural, o agricultor Reginaldo Jesus de Souza, de 41 anos, encontrou na banana-maçã a oportunidade de gerar renda e diversificar o sustento de sua família em Carmo do Rio Verde. Ele integra o grupo de 3,8 mil produtores goianos que investiram na banana. Das 241.997 toneladas de banana produzidas anualmente em Goiás, 197 mil toneladas são banana-maçã. Enquanto a média nacional de produção por hectare é de 14,35 toneladas, os produtores goianos colhem até 17 toneladas no mesmo espaço.
Na região de Itaguaru (que inclui Carmo do Rio Verde) a qualidade da banana-maçã produzida e sua lucratividade estão transformando a vida dos produtores. O fruto se destaca em relação ao produzido em outros Estados por ser mais tolerante ao Mal do Panamá e tem características que o tornam mais agradável ao paladar: doce, polpa branca, casca fina e não empedra. Para fortalecer essa produção a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seagro) está traçando um Planejamento Estratégico para o setor, que inclui a criação de um Selo da Banana-Maçã de Itaguaru. Desse modo, o fruto produzido em Goiás e com qualidades diferenciadas pode ser reconhecido em qualquer outro mercado.
De acordo com o agrônomo e gerente especial da Seagro, Rômulo Rodrigues, Goiás é o maior produtor em área dessa banana no País. “A gente possui uma variedade de banana-maçã que é diferenciada no restante do País, porque ela tolera – na verdade ela não é resistente – ela tem uma tolerância a um fungo que chama fuzarium (Mal do Panamá) que mata a bananeira rapidamente, não tornando comercial”, ressalta. A chamada banana-maçã de Itaguaru não é geneticamente modificada e não é de nenhum laboratório, o que a transforma em um produto genuinamente goiano.
Qual a diferença da banana-maçã e a prata? A banana-maçã é vendida na roça por até R$ 52 a caixa com 19 quilos, a banana-prata – que é uma banana mais consumida que a banana-maçã – é vendida hoje na propriedade a R$ 12 a caixa com 19 quilos. A diferença é muito grande”, argumenta. Segundo ele, a banana-maçã tem produtividade mais baixa. Ela produz até 15 toneladas por hectare-ano. Já a banana-prata produz 30 toneladas por hectare-ano.
A Seagro está montando um Planejamento Estratégico juntamente com todos os setores (com a Agrodefesa, Emater, iniciativa privada, cooperativas) para consolidar a cadeia produtiva da banana. Para isso algumas ações serão adotadas tais como a realização de um seminário estadual de bananicultura; montar Laboratório de Tecido de Cultura Vegetal – que produz várias mudas in vitro (clonagem) – para “limpar” as mudas; patentear a banana-maçã de Itaguaru como variedade de origem goiana; e requerer junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) um selo de indicação geográfica para essa banana-maçã de Itaguaru.
Novas perspectivas
Há pouco mais de cinco anos Reginaldo mal conseguia sustentar sua família, na zona rural de Carmo do Rio Verde. Com um modelo de agricultura familiar, o que produzia em sua fazenda não cobria os custos de produção e ele chegou a cogitar sair do campo para tentar a vida na cidade. Foi aí que os técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Goiás (Emater) sugeriram a ele utilizar sua propriedade como pesquisa para a banana-maçã, banana-nanica e banana-prata.
No projeto financiado pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) plantou dois hectares com essas três variedades, mas somente uma delas se adaptou à região. Quase seis anos depois os resultados da pesquisa podem ser vistos: hoje ele tem dez hectares em produção da banana-maçã e em outros 12 onde está começando a produzir. A colheita anual já ultrapassa as 18 toneladas por hectare.
A vida da família mudou. Antes ele tinha 24 hectares, agora ele já comprou mais sete. Parte da produção está em área arrendada e a meta é expandir o negócio. Para auxiliar nesse processo produtivo, com a ajuda da Emater ele construiu uma câmara fria, recebeu consultoria sobre qual produto usar no amadurecimento da fruta e comprou uma caminhonete para o transporte. A banana-maçã que ele colhe é vendida diretamente a mercados dos municípios de Ceres e Rialma. Outros 200 quilos ele fornece semanalmente a sete escolas estaduais e municipais de Uruana, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).
O técnico agrícola da Emater, José Wilson de Oliveira, expõe que o objetivo do projeto de pesquisa era difundir a produção de banana através de mudas certificadas e mostrar ao produtor as vantagens desse fruto que permite rentabilidade durante praticamente todo o ano. Uma bananeira sem o manejo adequado dura cerca de um ano. Com o manejo correto ela pode durar até cinco anos, permitindo ao produtor mais tempo de produção com menor replanta.
Depois do sucesso da produção de banana-maçã com a consultoria da Emater, Reginaldo avança agora em nova forma de produção: com irrigação. Com o suporte técnico da Emater e fornecimento do equipamento de irrigação pela Seagro essa tecnologia permitirá que ele colha no período da entressafra, momento em que outros produtores que não irrigam a plantação não terão o fruto. O custo médio por hectare para irrigação é de R$ 700. O custo total por alqueire de uma lavoura irrigada é de cerca de R$ 15 mil, enquanto que em uma mesma área não irrigada o custo é de R$ 8 mil. No entanto, o bananal irrigado produz 50% a mais do que a mesma área sem irrigação e é possível colher durante o ano inteiro.
Os resultados positivos da banana-maçã fizeram com que Reginaldo encorajasse seus vizinhos a investirem nesse produto. Celso Sérgio Cunha, 51 anos, há 30 anos é produtor rural, sempre investindo na produção de leite. Quando Reginaldo sugeriu que investisse em banana-maçã ele não acreditou muito nos resultados, mas a insistência do vizinho fez com que ele aceitasse ser seu sócio em uma lavoura. Pouco mais de dois anos depois ele não tem dúvidas de que fez a escolha certa. “Eu quero aumentar a área plantada”, afirma Celso. Os números demonstram os resultados: Cinco hectares de banana geram mais lucratividade do que 20 hectares de gado leiteiro.
FISCALIZAÇÃO
Goiás é o maior redistribuidor de banana do País. Todo esse produto que sai dos variados estados brasileiros passa pelos Ceasas goianos. O Estado é zona livre de Sigatoka-negra (tipo de fungo – doença quarentenária que afeta todas as variedades de banana e faz com que os estados onde têm essa doença não possam exportar a banana). Para manter essa condição e evitar a disseminação de pragas o Estado faz um rígido controle fitossanitário por meio da Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa). De janeiro a julho de 2014 a Agência fiscalizou 6.157 veículos. Ao todo foram fiscalizadas 73.373,72 toneladas de banana no território goiano. 
“O Estado de Goiás é zona livre, não tem a doença, então podemos mandar banana tanto para o Amazonas quanto para o Rio Grande do Sul. Isso nos torna o maior redistribuidor de banana do País. A banana que sai de São Paulo, Santa Catarina ou Bahia, não vai para Mato Grosso, Tocantins, sem antes passar pelo Ceasa Goiás, Ceasa Anápolis ou Ceasa Brasília”, detalha Rômulo. Goiás é o maior produtor do País da banana-maçã e exporta 60% de sua produção. Mas o maior produtor de banana, de um modo geral, é São Paulo, na variedade banana-nanica. Depois vem a Bahia com variedade prata e em seguida Minas Gerais com banana-nanica e prata.
As ações de defesa vegetal são desenvolvidas pela Agrodefesa. Os produtores devem seguir algumas medidas: Cadastramento e recadastramento das propriedades de banana na Agrodefesa; transporte de mudas e frutos sempre com Guia de Trânsito de Vegetais (GTV) interna – para trânsito dentro do Estado; transporte de mudas e frutos sempre com GTV externa – para trânsito entre estados; transporte de frutos somente em caixas plásticas higienizadas, caixas de madeira de primeiro uso ou de papelão; proibição do trânsito de bananas em cacho; proibição do trânsito de folhas de bananeira ou parte de planta no acondicionamento de qualquer produto; destruição de plantas de bananeira abandonadas e sem controle de pragas em faixas de domínio, acontecendo o mesmo para os cultivos de Helicônia (variedade de planta semelhante à bananeira) que estiverem na mesma situação; instituição da autorização para aquisição de mudas de banana provenientes de outros estados da federação e trânsito acobertado com a Guia de Trânsito Vegetal Externo, Nota Fiscal e Termo de Conformidade.
“Esse trabalho com a cultura da banana já tem mais de dez anos e é focado em algumas pragas, que são pragas quarentenárias. Essas pragas são de importância econômica e que ameaçam a economia do País, geralmente são organismos exóticos que foram introduzidos no País”, informa a fiscal estadual agropecuária da Agrodefesa, Fernanda de Sillos Faganello. Praticamente todos os municípios possuem fiscais agrônomos da Agrodefesa. “A maior importância é manter o status fitossanitário do Estado para que a atividade econômica de uma cultura e de um produto regulamentado mantenha-se sustentável”.
Controle
Para consolidar essa produção, esses agricultores investem agora no controle de pragas. Em uma das áreas que Reginaldo planta houve incidência da Sigatoka-amarela. O fungo “queima” as folhas da bananeira e desidrata a planta. Isso diminui a produção e a qualidade do fruto produzido. Ele também identificou na sua propriedade o Mal do Panamá, que destrói toda a planta – do caule até o cacho. A ocorrência dessas doenças prejudica a produtividade e gera um alerta. Nos locais onde foram encontrados esses fungos somente após 40 anos pode ser reiniciada a plantação. Uma vez que o ciclo da bananeira (com o manejo adequado) pode durar até 5 anos resta ao produtor continuar o controle dessas doenças na área já infectada para prolongar o máximo que puder essa produção. E quando essa lavoura não mais produzir, outro tipo de cultura deve ser plantada no local.
A grande preocupação da Seagro é que essas pragas, cuja incidência foi registrada em várias propriedades, sejam transmitidas para outras lavouras por meio do uso de mudas contaminadas. “Falta manejo correto com essa variedade. O produtor vem utilizando uma metodologia ou prática cultural antiga que facilita a infestação dessas pragas nessa variedade. Por ela ser tolerante a uma doença de solo, que é o Mal do Panamá, o pessoal parou de preocupar com a Broca da Bananeira e, principalmente, o nematóide. E isso vem causando prejuízos, o pessoal não sabe cultivar. Esses bananais vêm perdendo produtividade, vêm morrendo…”, explica Rômulo Rodrigues. Levantamento da Seagro aponta redução de 5 mil hectares na produção de banana devido a incidência de pragas nos últimos anos.
Para conscientizar os produtores sobre a importância desse manejo adequado (espaçamento entre as plantas, uso de mudas “limpas”, entre outros), a Seagro têm realizado reuniões com esse público-alvo. Levando especialistas para mostrar aos agricultores sobre a necessidade de tomar as medidas necessárias para evitar a transmissão da doença a outros bananais. Reginaldo foi um desses produtores que participou de uma dessas reuniões. “Ficou claro que temos que estar atentos a essas pragas e ao manejo”, expõe. Além disso, uma série de ações conjuntas entre Seagro, Emater, Agrodefesa, Embrapa e produtores rurais estão sendo viabilizadas.
“A Agrodefesa vai tratar com mais rigor trânsito de mudas, o complexo de transporte de bananas e toda a documentação que tem que ter. A Emater, na parte de pesquisa – nós vamos tentar limpar essa banana – vamos fazer o que: o laboratório já existe, nós vamos melhorar ele. Nós vamos reproduzir essa banana in vitro, que é limpar ela dessas doenças e fornecer pros produtores de mudas base. E a Emater Assistência Técnica vai dar assessoria aos agricultores familiares. Então o que a gente quer é um boom de informações para esse setor se consolidar”, pontua Rômulo. Ele complementa afirmando que o problema hoje está na muda. “A muda hoje está contaminada. E o produtor erroneamente acha que jogando um produto químico vai acabar e na verdade não acaba com essa praga. Ele já começa o plantio com problema. Então a gente quer o seguinte: Já que ele vai começar, que ele comece com a muda limpa”, conclui Rômulo. Goiás Agora.
Banana-maçã devolveu à família de Reginaldo a possibilidade de viver do campo Fotos:Eduardo Ferreira 

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